Edson Pavoni
O que não podemos esquecer
exposição + performance / 2023
O que não podemos esquecer foi a
primeira exposição individual de Edson Pavoni. Com curadoria de Carollina Lauriano,
a exposição foi resultado de três anos que pesquisa do artista sobre temas que envolvem
perda, memória e luto, com ênfase na pandemia do Covid-19. A mostra é, em especial,
um desenvolvimento do projeto Memorial Inumeráveis, que desde 2020 reúne milhares
de histórias das vítimas do coronavírus no Brasil.
A exposição também foi palco para uma performance de mesmo título, protagonizada por Pavoni e pela artista Isabella Nardini, no dia de sua inauguração. No dia seguinte, a mostra contou com uma roda de conversa com a curadora, o artista, e com a médica especializada em cuidados paliativos Ana Claudia Quintana. A exposição ficou em cartaz nos dias 17 e 18 de junho de 2023, na Casa Cósmica, em São Paulo.
A exposição também foi palco para uma performance de mesmo título, protagonizada por Pavoni e pela artista Isabella Nardini, no dia de sua inauguração. No dia seguinte, a mostra contou com uma roda de conversa com a curadora, o artista, e com a médica especializada em cuidados paliativos Ana Claudia Quintana. A exposição ficou em cartaz nos dias 17 e 18 de junho de 2023, na Casa Cósmica, em São Paulo.
O grito, o silêncio e a música
“Tomando os atravessamentos que a pandemia impôs ao mundo, mas também apontando questões de ordem política enfrentadas pelo Brasil diante o enfrentamento do vírus, Edson Pavoni apresenta um conjunto de trabalhos que ora denunciam descasos cometidos por parte da governabilidade, ora opta por caminhos poéticos que apontam caminhos de elaboração de futuros, na tentativa de não nos deixar esquecer os quase sete milhões de vítimas fatais do vírus em todo mundo, entre elas mais de setecentos mil brasileiros”, escreve Lauriano.
As três partes da mostra — o grito, o silêncio e a música — são compreendidas pelo artista como três etapas para elaboração de um luto. “Se em grito, Pavoni se vale de sentimentos primários — como a raiva — para lidar com esse primeiro momento de ausência, o silêncio atua como etapa seguinte de recolhimento e introspecção”, explica a curadora.
Sair desse momento, para o artista, exige um período de contemplação: o silêncio. Um período de calmaria, de introspecção. Uma pausa para processar a dor. Segundo a curadora, quando podemos ultrapassar esses “dois momentos de difícil assimilação”, é possível ouvir a música que abre novos caminhos. Assim,“Pavoni nos traz à vida. Ou à possibilidade dela.” Tendo como contexto os longos períodos de isolamento da pandemia, o momento da música, nesta exposição, traz referenciais ligados ao toque, ao contato físico, e às nuances das conexões humanas. Em suas obras, Pavoni demonstra “que é possível reativar memórias que nos retiram do estado de isolamento e nos colocam de novo em contato com o mundo”, como elabora Lauriano.
Leia o texto completo da curadora aqui.
“Tomando os atravessamentos que a pandemia impôs ao mundo, mas também apontando questões de ordem política enfrentadas pelo Brasil diante o enfrentamento do vírus, Edson Pavoni apresenta um conjunto de trabalhos que ora denunciam descasos cometidos por parte da governabilidade, ora opta por caminhos poéticos que apontam caminhos de elaboração de futuros, na tentativa de não nos deixar esquecer os quase sete milhões de vítimas fatais do vírus em todo mundo, entre elas mais de setecentos mil brasileiros”, escreve Lauriano.
As três partes da mostra — o grito, o silêncio e a música — são compreendidas pelo artista como três etapas para elaboração de um luto. “Se em grito, Pavoni se vale de sentimentos primários — como a raiva — para lidar com esse primeiro momento de ausência, o silêncio atua como etapa seguinte de recolhimento e introspecção”, explica a curadora.
Sair desse momento, para o artista, exige um período de contemplação: o silêncio. Um período de calmaria, de introspecção. Uma pausa para processar a dor. Segundo a curadora, quando podemos ultrapassar esses “dois momentos de difícil assimilação”, é possível ouvir a música que abre novos caminhos. Assim,“Pavoni nos traz à vida. Ou à possibilidade dela.” Tendo como contexto os longos períodos de isolamento da pandemia, o momento da música, nesta exposição, traz referenciais ligados ao toque, ao contato físico, e às nuances das conexões humanas. Em suas obras, Pavoni demonstra “que é possível reativar memórias que nos retiram do estado de isolamento e nos colocam de novo em contato com o mundo”, como elabora Lauriano.
Leia o texto completo da curadora aqui.
O grito
Segundo a médica especialista em cuidados paliativos, Ana Claudia Quintana, “o que vivemos na pandemia ainda deveria estar no espaço do grito”. Em seu texto sobre a exposição, Quintana descreve esse espaço como um lugar “do choque, da indignação, da percepção da injustiça de mãos dadas com a irreversibilidade. Nenhuma morte é menos do que cem por cento de ausência. De silêncio abismal, profundo, total. Da voz de quem se foi ao redor da escuta de quem permaneceu. Esse silêncio ensurdecedor só se quebra pelo som da natureza. A natureza que revela a cada dia a persistência da vida. A teimosia da vida. A determinação da vida. Que no seu ritmo, incansável, persistente, amorosamente vem e nos mostra que o ritmo da vida segue adiante.”
Leia o texto completo de Ana Claudia Quintana aqui.
Segundo a médica especialista em cuidados paliativos, Ana Claudia Quintana, “o que vivemos na pandemia ainda deveria estar no espaço do grito”. Em seu texto sobre a exposição, Quintana descreve esse espaço como um lugar “do choque, da indignação, da percepção da injustiça de mãos dadas com a irreversibilidade. Nenhuma morte é menos do que cem por cento de ausência. De silêncio abismal, profundo, total. Da voz de quem se foi ao redor da escuta de quem permaneceu. Esse silêncio ensurdecedor só se quebra pelo som da natureza. A natureza que revela a cada dia a persistência da vida. A teimosia da vida. A determinação da vida. Que no seu ritmo, incansável, persistente, amorosamente vem e nos mostra que o ritmo da vida segue adiante.”
Leia o texto completo de Ana Claudia Quintana aqui.
Em Grito, a série Notícias Checadas toma como ponto de partida
os escândalos que marcaram o período de maior ápice da pandemia
do Covid-19, denunciando seus efeitos e consequências para a
população brasileira. São três obras: Cloroquina, Viagra e Um dólar, todas de 2023.
Nesse período, destacou-se a explosão de desinformação que promovia medicamentos comprovadamente ineficazes para prevenção e profilaxia da doença. Autoridades médicas, religiosas e inclusive a instância máxima do governo, disseminaram a promoção do uso de fármacos como a Cloroquina e a Ivermectina, impactando a vida de milhares de brasileiros e gerando resultados desastrosos para o controle do vírus.(1)
Nesse período, destacou-se a explosão de desinformação que promovia medicamentos comprovadamente ineficazes para prevenção e profilaxia da doença. Autoridades médicas, religiosas e inclusive a instância máxima do governo, disseminaram a promoção do uso de fármacos como a Cloroquina e a Ivermectina, impactando a vida de milhares de brasileiros e gerando resultados desastrosos para o controle do vírus.(1)
E, enquanto o mundo se engajava em uma corrida pela vacina,
eficaz e segura, o governo encontrava-se em meio a delações
que demonstravam seus esforços em não assegurar vacinas o mais
rápido possível para sua população, mas em lucrar um dólar por
cada dose comprada da Davati Medical Supply.(2)
Como se não bastasse, reportagens provaram que as Forças Armadas haviam usado dinheiro público para adquirir mais de 35 mil unidades de sildenafila, medicamento conhecido pelo nome comercial de Viagra, com a inverossímil justificativa de que seria empregado no tratamento de militares com uma doença rara e que atinge mais mulheres do que homens.(3)
Como se não bastasse, reportagens provaram que as Forças Armadas haviam usado dinheiro público para adquirir mais de 35 mil unidades de sildenafila, medicamento conhecido pelo nome comercial de Viagra, com a inverossímil justificativa de que seria empregado no tratamento de militares com uma doença rara e que atinge mais mulheres do que homens.(3)
Outra obra desse primeiro momento é a instalação Inumeráveis,
composta por uma impressora matricial que imprime, em ritmo constante,
pelo menos 12 mil histórias de vida das vítimas da Covid-19 no Brasil,
reunidas previamente pelo Memorial Inumeráveis, uma plataforma digital
que conta com centenas de voluntários desde 2020.
Acesse as histórias completas clicando aqui.
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Cada nova história que é adicionada à plataforma é
também impressa pela máquina. Utilizando-se de objetos
que remetem a processos burocráticos e administrativos,
aqui empregados de modo ácido como símbolos das instâncias
governamentais teoricamente responsáveis pela proteção da população,
a obra cria impressões frágeis que resguardam, fisicamente, a memória
das pessoas vítimas da Covid-19.
Essas impressões, que assemelham-se a relatórios cotidianos de uma repartição pública, prontos a serem catalogados e engavetados, entretanto, possuem tamanho volume que seu arquivamento torna-se impossível. Ao estarem coligadas, folha a folha, são indivisíveis. É necessário compreendê-las como um todo, unido, um grupo de histórias interrompidas pelo mesmo ponto final. De norte a sul, leste a oeste, cada história é única, e guarda consigo um pedaço de sabedoria que não só é inestimável, como insubstituível.
O silêncio
No contexto da pandemia da Covid-19, o embate entre crenças tornou-se latente. Isto é: a escolha em o que acreditar, em que informação tomar como verdadeira, determinou caminhos individuais, familiares e coletivos, inclusive a nível de Estado.
A obra Crente postula rumos para compreendermos esse cenário ao transformar em cerâmica um dos maiores ícones do período da pandemia, o equipamento de proteção individual chamado de "face shield", normalmente feito em plástico transparente.
No contexto da pandemia da Covid-19, o embate entre crenças tornou-se latente. Isto é: a escolha em o que acreditar, em que informação tomar como verdadeira, determinou caminhos individuais, familiares e coletivos, inclusive a nível de Estado.
A obra Crente postula rumos para compreendermos esse cenário ao transformar em cerâmica um dos maiores ícones do período da pandemia, o equipamento de proteção individual chamado de "face shield", normalmente feito em plástico transparente.
Ao transformá-lo em cerâmica, um dos materiais pelo qual podemos conhecer detalhes de civilizações que existiram há milhares de anos, o artista busca solidificar a era da pandemia. Com isso, por um lado, eterniza os trabalhadores da saúde que se utilizavam do acessório todos os dias na linha de frente do combate à doença, e cuja prática baseava-se em métodos científicos.
Por outro, a transformação em cerâmica inviabiliza o instrumento de cumprir a sua função original, sendo agora um obstáculo físico à visão. Como antolhos radicais, o objeto questiona o modo pelo qual a fé é construída dentro de cada um. Questiona, mais especificamente, os sentidos que usamos para elaborar nossas concepções sobre o mundo e sobre a verdade.
Por outro, a transformação em cerâmica inviabiliza o instrumento de cumprir a sua função original, sendo agora um obstáculo físico à visão. Como antolhos radicais, o objeto questiona o modo pelo qual a fé é construída dentro de cada um. Questiona, mais especificamente, os sentidos que usamos para elaborar nossas concepções sobre o mundo e sobre a verdade.
A música
Em A Música, Pavoni apresenta duas obras que se relacionam com essa fase final do processo de luto: Templo Orbital e Primeiro Sentido.
Templo Orbital é o primeiro satélite orbital artístico do Sul Global. Sua missão é questionar a colonização simbólica do céu como paraíso; a origem das regras que abrem ou fecham seus portais; e a influência que essas crenças têm nas decisões que tomamos todos os dias.
Em A Música, Pavoni apresenta duas obras que se relacionam com essa fase final do processo de luto: Templo Orbital e Primeiro Sentido.
Templo Orbital é o primeiro satélite orbital artístico do Sul Global. Sua missão é questionar a colonização simbólica do céu como paraíso; a origem das regras que abrem ou fecham seus portais; e a influência que essas crenças têm nas decisões que tomamos todos os dias.
Seu ponto de partida é a aceitação, e toma o céu como lugar máximo de aceitação. A maioria das culturas e religiões que obedecem a alguma ideia de céu e inferno estabelecem diretrizes precisas sobre quem pertence a cada destino da vida após a morte. Essas diretrizes geralmente são rígidas e excludentes. A missão Templo Orbital questiona essas ideias. E se pudéssemos imaginar um paraíso alternativo no qual todos os seres sencientes pudessem ter um lugar? Pelo site, qualquer pessoa pode enviar o nome da pessoa que deseja mandar para o céu, sem nenhum custo. Assim que o satélite estiver em órbita e ocorrer o próximo alinhamento entre ele e a antena, os nomes serão transmitidos para o dispositivo no céu. O satélite o armazenará em sua memória e responderá com uma mensagem confirmando que está registrado no templo.
Saiba mais sobre a obra clicando aqui.
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A obra Primeiro Sentido,
que vem sendo desenvolvida desde 2015, ganhou novos sentidos
em meio à pandemia. O toque como uma necessidade
básica tornou-se cada vez mais evidente devido à
sua ausência. Durante esse período, o toque tornou-se
uma ameaça. O ato de tocar significava algo perigoso,
arriscado, algo a ser temido e evitado. Instaurou-se
uma crise do toque cada vez mais aguda, e cujas
consequências ainda não podemos estimar. Essa
redução extrema em nossa capacidade de tocar os
outros destacou o fato de que todas as pessoas,
não importa a idade, precisam ser tocadas para prosperar.
Por isso, a série fotográfica Primeiro Sentido vem ao
encontro da música ao representar as respostas humanas a este temível toque.
Buscando investigar a qualidade das conexões que surgem a partir desse ato,
o artista registra fotograficamente o ato de tocar pessoas pela primeira vez,
algumas desconhecidas e outros já familiares. Nesse movimento, Pavoni busca
compreender o espírito do toque, o nosso mais básico instrumento de comunicação.
Capaz de transmitir emoções mais rapidamente do que as palavras, até o toque mais
sutil pode ter efeitos profundos no que sentimos, provocando um leque de emoções
tão complexo e amplo que consegue definir, pouco a pouco, quem somos.
Saiba mais sobre as obras clicando aqui.
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Quem esteve na Casa Cósmica, em São Paulo, quando os relógios marcaram
cinco horas e cinquenta e cinco minutos, no dia 17 de junho de 2023,
pode participar da performance O que não podemos esquecer, resultado
de um processo colaborativo entre Isabella Nardini e Edson Pavoni.
Em meio às demais obras da exposição de mesmo nome, que exploravam
o trauma coletivo da pandemia do Covid-19 no Brasil, havia uma
simplicidade de elementos auxiliares — a perfomance contava com uma
ampulheta, suspensa pelo teto, duas cadeiras voltadas uma para a outra,
e pequenas fitas vermelhas, delicadas como se fossem dar o toque final
a um belo presente.
Nardini e Pavoni, nessa performance, elaboram um convite para
que os demais participantes possam exercer a memória não só
como uma ação coletiva, mas como uma responsabilidade compartilhada.
A simplicidade da pergunta a que eram convidados a responder, “o que
não podemos esquecer?”, carregava consigo também a profundidade de um
questionamento que parece estar na base mais fundamental de qualquer
decisão. Respostas que variavam desde o que não podemos esquecer ao
sair de casa, até o que não podemos esquecer como humanidade, apontavam
para a necessidade de refletirmos sobre as políticas de memória e
esquecimento que permeiam a nossa relação com o passado, o presente e
o futuro. Após Nardini e Pavoni responderem à pergunta, cada um fez um
laço com a fita em um dedo um do outro. E passaram adiante duas outras
fitas para que novos corpos ocupassem aquele espaço e seguissem se
entrelaçando.
Ao motivar os participantes para que tomassem
os assentos em meio à mostra de arte e que
compartilhassem, enquanto a ampulheta virava,
o que para eles era imprescindível relembrar,
a performance atuava de modo quase metalinguístico
ao demandar, ela mesma, que o ato de lembrar fosse
exercido. Assim, tomava os corpos do público como
protagonistas desse ato e, nesse contexto, ficava
evidente a imediata conexão que surgia, entre dois
possíveis desconhecidos que ali, na base da cara e
da coragem, se dispunham a encontrar um campo em comum.
Créditos
Edson Pavoni, artista
Curadoria
Carollina Lauriano
Performance
Isabella Nardini & Edson Pavoni
Speaker Convidada
Ana Claudia Quintana
Montagem
Gabriela Veiga & Junior de Gois
Produção
Clara Marques & Gabriela Veiga
Textos & Design Gráfico
Clara Marques
Fotografia & Video
Estúdio Em Obra
Agradecimentos especiais
Casa Cósmica, Felipe Corcione, Anelise Valls, Marcello Dantas & Matias Campos Abad.
Equipe Templo Orbital Pedro Kaled, João Pedro Polito, Victor Baptista, João Victor Alves, André Biagioni, VK, Jonathan Querubina, Guilherme Bullejos, Eduardo Dias, RiseNy&Partners, Roberta Savian Rosa, Clara Marques, Daphne Alves, IdeaSpace & Pearmill.
Edson Pavoni, artista
Curadoria
Carollina Lauriano
Performance
Isabella Nardini & Edson Pavoni
Speaker Convidada
Ana Claudia Quintana
Montagem
Gabriela Veiga & Junior de Gois
Produção
Clara Marques & Gabriela Veiga
Textos & Design Gráfico
Clara Marques
Fotografia & Video
Estúdio Em Obra
Agradecimentos especiais
Casa Cósmica, Felipe Corcione, Anelise Valls, Marcello Dantas & Matias Campos Abad.
Equipe Templo Orbital Pedro Kaled, João Pedro Polito, Victor Baptista, João Victor Alves, André Biagioni, VK, Jonathan Querubina, Guilherme Bullejos, Eduardo Dias, RiseNy&Partners, Roberta Savian Rosa, Clara Marques, Daphne Alves, IdeaSpace & Pearmill.